Taí um homem: Prudente Seguro do Resguardo. Sua mãe ensinou-lhe, desde cedo, que não devia ir à janela porque podia cair, que não devia abrir a janela pra não tomar corrente de ar, que não devia responder mal às pessoas maiores – podiam bater nele – ou mais ricas – podiam prejudicá-lo no continuar da vida. E Prudente preservou a brancura da pele, jamais tomando sol.
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Crescendo, Prudente aprendeu a guiar devagar e não avançar sinais, a não levar cachorro pra praia e, sobretudo, a apontar às autoridades os transgressores, jogadores de frescobol, surfistas e que tais.
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Casando-se, Prudente casou com uma mulher feia, pra não ser passado pra trás. Só aplicava suas economias em terras e apartamentos (“Terra é sempre terra”) e foi morar num lugar isolado, nem muito alto nem muito baixo, pra que seus dois filhos não pudessem cair de cima, mas também as enchentes não lhe entrassem em casa. Sua casa tinha ferrolhos contra ladrões, aquecimento a lenha para evitar os perigos do gás, e seus filhos só iam à escola com dois guarda-costas, assim que começou a moda dos seqüestros.
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E assim vivia Prudente, tranqüilo e feliz, protegido pela sua imensa sabedoria, quando, um dia, ao sair de casa, um bólido caiu do céu em cima dele e matou-o. Esse bólido era nada mais nada menos do que Vulnerável Indefeso Porumfio, que, numa de suas experiências com um novo motor atômico para bicicletas infantis, tinha explodido sua garagem-laboratório, a 25 quilômetros de distância, e viera cair exatamente em cima do sábio – Deus o tenha no seu bem protegido Paraíso – Prudente. Vulnerável saiu completamente ileso do acidente, sem um arranhão, e declarou à imprensa que não desistirá de suas experiências enquanto não completar a sua bicicleta voadora.
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Moral: Não adianta você andar na mão se tem um maluco vindo a toda na contramão
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Crescendo, Prudente aprendeu a guiar devagar e não avançar sinais, a não levar cachorro pra praia e, sobretudo, a apontar às autoridades os transgressores, jogadores de frescobol, surfistas e que tais.
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Casando-se, Prudente casou com uma mulher feia, pra não ser passado pra trás. Só aplicava suas economias em terras e apartamentos (“Terra é sempre terra”) e foi morar num lugar isolado, nem muito alto nem muito baixo, pra que seus dois filhos não pudessem cair de cima, mas também as enchentes não lhe entrassem em casa. Sua casa tinha ferrolhos contra ladrões, aquecimento a lenha para evitar os perigos do gás, e seus filhos só iam à escola com dois guarda-costas, assim que começou a moda dos seqüestros.
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E assim vivia Prudente, tranqüilo e feliz, protegido pela sua imensa sabedoria, quando, um dia, ao sair de casa, um bólido caiu do céu em cima dele e matou-o. Esse bólido era nada mais nada menos do que Vulnerável Indefeso Porumfio, que, numa de suas experiências com um novo motor atômico para bicicletas infantis, tinha explodido sua garagem-laboratório, a 25 quilômetros de distância, e viera cair exatamente em cima do sábio – Deus o tenha no seu bem protegido Paraíso – Prudente. Vulnerável saiu completamente ileso do acidente, sem um arranhão, e declarou à imprensa que não desistirá de suas experiências enquanto não completar a sua bicicleta voadora.
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Moral: Não adianta você andar na mão se tem um maluco vindo a toda na contramão
Millôr Fernandes
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