“Pela saúde, pelo calçamento, pela água, pela escola e pela fé, vote Adaiton da Birosca”. Era reconhecidamente um lutador por essas causas. Mesmo os desafetos que reclamavam da honestidade da sua balança, dos juros nas contas penduradas, dos produtos vencidos e, coisa de invejosos, até de incêndios em eventuais concorrentes, tinham de reconhecer seu envolvimento em todas essas áreas. Bem, quase todas, porque em coisas de fé sempre manteve distância para não criar amarras de um lado e ressentimentos de outro. E isso, se era bom para os negócios, não era nada bom para a campanha.
De sua tribuna, o balcão onde passava o dia e parte da noite atendendo os fregueses, exercia sua liderança. Sobre aquela madeira velha e manchada já conseguira centenas de assinaturas para pressionar as autoridades. E foram os próprios fregueses que o convenceram: se já fazia tanta coisa pelas pessoas, imagine quando estivesse na Câmara. Não podia fazer isso com eles. Não podia desamparar seus irmãos.
Resistiu quanto pôde. Não pensava em política, a não ser para criticar. Uma corja de aproveitadores que nada fazia pelo povo. Quando se empolgava, convencendo os clientes a fazer barulho na frente da Prefeitura, sempre desancava os políticos, “essa raça de abutres”. Como é que ia agora enveredar por esse caminho?
Mas, tanto insistiram, que ele prometeu pensar. E pensou. Numa trincheira adequada, talvez pudesse fazer muito mais por aquela gente. E não seria mais um arruaceiro, um criador de casos. Seria um legítimo representante do povo, investido nos poderes que lhe outorgavam a Constituição e outras coisas bonitas mais. Saberiam o que é um homem público
Tinham todos de concordar que, mesmo sem mandato, já conseguira muita coisa. Não veio a escola, mas veio a professorinha que dá aulas numa salinha atrás da igreja. Não tem posto de saúde, mas tem visita de médico e enfermeira, a cada quinze dias, na farmácia. Não conseguiu calçamento, mas pó de pedra foi jogado nos lugares mais cheios de lama e onde já não passava carroça. Ainda não havia água encanada nas casas, mas torneiras públicas foram instaladas em alguns lugares.
Só em assuntos de fé não tinha nada ainda para ostentar. Embora tratasse todo crente com respeito e cortesia, embora ouvisse pacientemente as admoestações, conselhos e bênçãos que sobre ele derramavam, nunca se interessou de fato por essas coisas. Por outro lado sabia que, sem apoio das lideranças religiosas, sua candidatura não tinha chance.
Procurou primeiro o Padre Jonas, porque ele era o mais marrento. Adailton, embora batizado, só frequentava a igreja nos casamentos, batizados e enterros. Já percebera os olhares enviesados do padre e, por isso, chegou todo sorrisos.
- Seu padre, a sua bênção. Sei que o senhor, assim como eu, é uma pessoa muito preocupada com a gente daqui e por isso venho colocar a minha candidatura a serviço da nossa paróquia.
- Nossa paróquia não, que o senhor não bota os pés aqui há muito tempo. – disse o padre, azedo.
Adailton xingou intimamente o pároco, mas manteve o sorriso.
De sua tribuna, o balcão onde passava o dia e parte da noite atendendo os fregueses, exercia sua liderança. Sobre aquela madeira velha e manchada já conseguira centenas de assinaturas para pressionar as autoridades. E foram os próprios fregueses que o convenceram: se já fazia tanta coisa pelas pessoas, imagine quando estivesse na Câmara. Não podia fazer isso com eles. Não podia desamparar seus irmãos.
Resistiu quanto pôde. Não pensava em política, a não ser para criticar. Uma corja de aproveitadores que nada fazia pelo povo. Quando se empolgava, convencendo os clientes a fazer barulho na frente da Prefeitura, sempre desancava os políticos, “essa raça de abutres”. Como é que ia agora enveredar por esse caminho?
Mas, tanto insistiram, que ele prometeu pensar. E pensou. Numa trincheira adequada, talvez pudesse fazer muito mais por aquela gente. E não seria mais um arruaceiro, um criador de casos. Seria um legítimo representante do povo, investido nos poderes que lhe outorgavam a Constituição e outras coisas bonitas mais. Saberiam o que é um homem público
Tinham todos de concordar que, mesmo sem mandato, já conseguira muita coisa. Não veio a escola, mas veio a professorinha que dá aulas numa salinha atrás da igreja. Não tem posto de saúde, mas tem visita de médico e enfermeira, a cada quinze dias, na farmácia. Não conseguiu calçamento, mas pó de pedra foi jogado nos lugares mais cheios de lama e onde já não passava carroça. Ainda não havia água encanada nas casas, mas torneiras públicas foram instaladas em alguns lugares.
Só em assuntos de fé não tinha nada ainda para ostentar. Embora tratasse todo crente com respeito e cortesia, embora ouvisse pacientemente as admoestações, conselhos e bênçãos que sobre ele derramavam, nunca se interessou de fato por essas coisas. Por outro lado sabia que, sem apoio das lideranças religiosas, sua candidatura não tinha chance.
Procurou primeiro o Padre Jonas, porque ele era o mais marrento. Adailton, embora batizado, só frequentava a igreja nos casamentos, batizados e enterros. Já percebera os olhares enviesados do padre e, por isso, chegou todo sorrisos.
- Seu padre, a sua bênção. Sei que o senhor, assim como eu, é uma pessoa muito preocupada com a gente daqui e por isso venho colocar a minha candidatura a serviço da nossa paróquia.
- Nossa paróquia não, que o senhor não bota os pés aqui há muito tempo. – disse o padre, azedo.
Adailton xingou intimamente o pároco, mas manteve o sorriso.
Albir Jose Inacio da Silva
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