Seu Amadeu está sentado, sem se mexer, olhando o vazio. Dinorá, mexe para cá, mexe para lá, desconfia ao vê-lo tão quieto, neste mato tem coelho. Não tem queixas de seu Amadeu, mas homem nenhum presta. As mulheres sabem, Dinorá sabe.
― Amadeu, hoje eu vou fazer uma sopa de letras, que é que você acha?
― Faça, Dinorá, faça, com as letras nós comporemos uma canção de amor.
Ela vai para a cozinha e olha para as panelas de ferro.
Convém alimentar o marido, barriga cheia é apaziguante, os maridos dormem depois de uma boa refeição, e roncam.
― Vou fazer também uns torresminhos bem macios...
― Isso, Dinorá, uns torresminhos de bom toicinho, ah, que bom que é para comer com pão! Vou até à padaria, comprar pão bem quentinho.
― Não vá não, Amadeu, que eu fiz ontem aquele pão de que você gosta.
Ele vai para a janela, e fica olhando para fora. Que é que ele tanto olha para fora? Vai ver que é aquela sirigaita loira, que passa por aqui todas as tardes, sacolejando as ancas.
― Se você, Amadeu, botar a toalha na mesa, os pratos, os talheres, bem que me ajudava...
Seu Amadeu bota a toalha na mesa, os guardanapos (guardanapos de linho, tanto ela como ele faziam questão, nada disso de guardanapos de papel e toalha de plástico).
― Bota também a pimentinha, e a lata de azeite Gallo.
Carne com molho ferrugem, feijão com caldo grosso, arroz branco bem soltinho. E a sopa de letras, o torresminho.
Dinorá mira-se, de passagem, no espelho.
― Você não acha que eu estou engordando?
― Que nada, Dinorá, você está no ponto como sempre esteve.
A noite vem chegando, este mês de abril, este outono estão esquisitos. Mas as rosas desabrocham no jardim.
Mais tarde, será o crilicri dos grilos, cantando na grama.
Uma borboleta noturna entra na sala, e vai pousar na parede, de asas abertas. Gozado, as outras, diurnas e coloridas, só pousam de asas fechadas.
O cachorrinho late no portão. Deve ser o gato amarelo que veio provocá-lo. Mas é o divertimento de ambos.
― Vem pra dentro, Pichorro!
A garganta seca de tanto latir, o cachorrinho vai beber água fresca.
― Ah, Dinorá, o torresminho estava divino!
E agora, ambos vão compor, com as letras da sopa de letras, uma canção de amor.
― Feche a porta, Amadeu, e apaga a luz.
― Ora, Dinorá, você sabe que eu gosto mesmo é com a luz acesa. Pelo menos a luz do abajur.
― Mas você também sabe, Amadeu, que eu tenho vergonha dos santinhos no oratório...
Os santinhos, porém, cabeceando de sono, aprovam.
― Faça, Dinorá, faça, com as letras nós comporemos uma canção de amor.
Ela vai para a cozinha e olha para as panelas de ferro.
Convém alimentar o marido, barriga cheia é apaziguante, os maridos dormem depois de uma boa refeição, e roncam.
― Vou fazer também uns torresminhos bem macios...
― Isso, Dinorá, uns torresminhos de bom toicinho, ah, que bom que é para comer com pão! Vou até à padaria, comprar pão bem quentinho.
― Não vá não, Amadeu, que eu fiz ontem aquele pão de que você gosta.
Ele vai para a janela, e fica olhando para fora. Que é que ele tanto olha para fora? Vai ver que é aquela sirigaita loira, que passa por aqui todas as tardes, sacolejando as ancas.
― Se você, Amadeu, botar a toalha na mesa, os pratos, os talheres, bem que me ajudava...
Seu Amadeu bota a toalha na mesa, os guardanapos (guardanapos de linho, tanto ela como ele faziam questão, nada disso de guardanapos de papel e toalha de plástico).
― Bota também a pimentinha, e a lata de azeite Gallo.
Carne com molho ferrugem, feijão com caldo grosso, arroz branco bem soltinho. E a sopa de letras, o torresminho.
Dinorá mira-se, de passagem, no espelho.
― Você não acha que eu estou engordando?
― Que nada, Dinorá, você está no ponto como sempre esteve.
A noite vem chegando, este mês de abril, este outono estão esquisitos. Mas as rosas desabrocham no jardim.
Mais tarde, será o crilicri dos grilos, cantando na grama.
Uma borboleta noturna entra na sala, e vai pousar na parede, de asas abertas. Gozado, as outras, diurnas e coloridas, só pousam de asas fechadas.
O cachorrinho late no portão. Deve ser o gato amarelo que veio provocá-lo. Mas é o divertimento de ambos.
― Vem pra dentro, Pichorro!
A garganta seca de tanto latir, o cachorrinho vai beber água fresca.
― Ah, Dinorá, o torresminho estava divino!
E agora, ambos vão compor, com as letras da sopa de letras, uma canção de amor.
― Feche a porta, Amadeu, e apaga a luz.
― Ora, Dinorá, você sabe que eu gosto mesmo é com a luz acesa. Pelo menos a luz do abajur.
― Mas você também sabe, Amadeu, que eu tenho vergonha dos santinhos no oratório...
Os santinhos, porém, cabeceando de sono, aprovam.
Anníbal Augusto Gama
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