quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O Analista de Bagé


Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão,
possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vem de Bagé,
assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas não adianta. Estas histórias
do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de
Bagé, história apócrifa é mentira bem educada) mas, pensando bem, ele não poderia vir
de outro lugar.
Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele
recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.
— Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
— O senhor quer que eu deite logo no divã?
— Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver
o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem
dinheiro.
— Certo, certo. Eu...
— Aceita um mate?
— Um quê? Ah, não. Obrigado.
— Pos desembucha.
— Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
— Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
— Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe
— Outro.
— Outro?
— Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque.
— E o senhor acha...
— Eu acho uma pôca vergonha.
— Mas...
— Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!

Luis Fernando Verissimo

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