domingo, 7 de novembro de 2010

Como que um mineiro fila cigarro

A MANEIRA ENROLADA com que um mineiro fila cigarro? Aqui vai.

Ele estava em São João del-Rei admirando um chafariz, quando viu por ali a rondá-lo um velhinho mirrado e seco, roupa de brim e chapéu na cabeça, que acabou se chegando:
— Tá aí preciano, moço?
— Estou. Não é bonito?
Passou a mão pelo queixo, enquanto buscava assunto:
— O senhor não é daqui não, é?
— Sou de Minas, mas moro no Rio há muito tempo.— Ah, foi educado lá.
— Isso mesmo.
— Posso saber qual é a sua graça?
O velho ouviu o nome e sacudiu a cabeça. Depois perguntou candidamente:
— Por acaso o senhor tem um fósforo aí?
Em resposta, o outro estendeu-lhe a caixa de fósforo. O velho correu as mãos a ao longo do paletó, como se procurasse alguma coisa, enquanto dizia:
— Quer dizer que o senhor fuma...
— Fumo sim — e ele tirou o maço do bolso, acendeu um cigarro: ­E o senhor? Não fuma?
— Dez vez em quando — admitiu o velho.
— Aceita um?
— Já que o senhor dispõe...
O velho tirou com dedos finos um cigarro do maço que lhe era estendido e, certamente para não desperdiçar fósforo, acendeu-o no cigarro do outro. E se despediu, levando a mão ao chapéu:
— Obrigado, moço. Muito prazer, viu?

                                                                             Millor Fernandes

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