Era um colecionador de extravagâncias, algumas absolutamente incríveis, como, por exemplo, um relógio de parede que, ao bater as horas e quartos de hora, dizia insultos terríveis a quem estivesse perto ou o consultasse. Máquinas estúpidas que deslizavam guinchando atrás das pessoas e lhes mordiam doloridamente os pés, cachorros que vinham mijar na barra de nossas calças. Ele ria, e ligava todas essas máquinas para se divertir e divertir os seus amigos. Por último, adquiriu uma boneca de plástico, de fabricação exclusiva e apenas sob encomenda, de uma fábrica japonesa, que lhe custara uma nota. Era realmente belíssima a boneca que me mostrou, mas eu lhe disse: “Isso jamais substituirá uma mulher de verdade”. “Substitui sim, e com vantagem”, ele afirmou.
Dois meses depois, ele me convocou, indignado, dizendo-me que haviam matado a sua boneca de plástico. “Será que não foi ela mesma que praticou haraquiri?”, eu lhe disse, gozando-o. “Não brinque, respondeu, “ela foi esquartejada”. Fui ver a boneca e vi que ela de fato fora esquartejada, provavelmente por uma serra elétrica.
― Eu lhe pago o que você quiser para você descobrir quem fez isso com minha boneca.
Não lhe disse nada, mas a minha primeira suposição foi a de que aquilo era serviço de alguma mulher. Mas mulher não usa serra elétrica. Mulher adota antes veneno.
Sou investigador particular, e já havia antes lhe prestado alguns serviços.
Fiz as perguntas de praxe, quem tinha acesso livre à sua casa, onde ele guardava a boneca, para quem a exibira, quando é que estivera ausente, se suspeitava de alguém, etc. Ele me respondeu que suspeitava de todo mundo. “É melhor você suspeitar de uma mulher”, eu lhe disse. “Uma mulher ciumenta, sei que você tem amantes e é um depravado”. Aconselhei-o também a ir à Polícia e denunciar o assassinato da boneca de plástico. “Não brinque”, ele me respondeu, “o caso é grave”.
― Será que a sua boneca não o estava traindo com outro? ― sugeri.
― Impossível ― ele explicou. ― Ela tem garantia de fidelidade absoluta, da fábrica.
Fui entrevistar as amantes dele, e elas admitiram que tinham ciúmes da boneca, mas seriam incapazes de manejar uma serra elétrica. Uma delas disse-me que não gostava nem de ligar o ferro elétrico. Demais disso, disseram, nenhuma boneca as superava, elas faziam coisas que nem uma boneca japonesa saberia fazer.
No meu escritório, refleti: Se não fora uma mulher a esquartejadora, fora um homem. E lembrei-me do Padre Zózimo, que ia à casa dele para pedir esmolas para os pobres e para as obras de igreja. Provavelmente, por deboche, ele exibira a boneca ao Padre Zózimo.
Fui procurar o padre e, de supetão, lhe disse: “Sei que foi o senhor que esquartejou a boneca”.
Ele não titubeou:
― Fui eu mesmo, e não me arrependo. Aquilo era obra do Diabo, e precisava ser exterminado. Já pensou se os padres ricos começam a comprar bonecas de plástico, como aquela?
Não denunciei a ele o Padre Zózimo e, passados uns meses, informei-o de que desistia da investigação. Não havia achado nenhuma pista. E aconselhei-o a comprar outra boneca, mas não a exibir a ninguém.
É uma imprudência exibir as nossas mulheres.
Dois meses depois, ele me convocou, indignado, dizendo-me que haviam matado a sua boneca de plástico. “Será que não foi ela mesma que praticou haraquiri?”, eu lhe disse, gozando-o. “Não brinque, respondeu, “ela foi esquartejada”. Fui ver a boneca e vi que ela de fato fora esquartejada, provavelmente por uma serra elétrica.
― Eu lhe pago o que você quiser para você descobrir quem fez isso com minha boneca.
Não lhe disse nada, mas a minha primeira suposição foi a de que aquilo era serviço de alguma mulher. Mas mulher não usa serra elétrica. Mulher adota antes veneno.
Sou investigador particular, e já havia antes lhe prestado alguns serviços.
Fiz as perguntas de praxe, quem tinha acesso livre à sua casa, onde ele guardava a boneca, para quem a exibira, quando é que estivera ausente, se suspeitava de alguém, etc. Ele me respondeu que suspeitava de todo mundo. “É melhor você suspeitar de uma mulher”, eu lhe disse. “Uma mulher ciumenta, sei que você tem amantes e é um depravado”. Aconselhei-o também a ir à Polícia e denunciar o assassinato da boneca de plástico. “Não brinque”, ele me respondeu, “o caso é grave”.
― Será que a sua boneca não o estava traindo com outro? ― sugeri.
― Impossível ― ele explicou. ― Ela tem garantia de fidelidade absoluta, da fábrica.
Fui entrevistar as amantes dele, e elas admitiram que tinham ciúmes da boneca, mas seriam incapazes de manejar uma serra elétrica. Uma delas disse-me que não gostava nem de ligar o ferro elétrico. Demais disso, disseram, nenhuma boneca as superava, elas faziam coisas que nem uma boneca japonesa saberia fazer.
No meu escritório, refleti: Se não fora uma mulher a esquartejadora, fora um homem. E lembrei-me do Padre Zózimo, que ia à casa dele para pedir esmolas para os pobres e para as obras de igreja. Provavelmente, por deboche, ele exibira a boneca ao Padre Zózimo.
Fui procurar o padre e, de supetão, lhe disse: “Sei que foi o senhor que esquartejou a boneca”.
Ele não titubeou:
― Fui eu mesmo, e não me arrependo. Aquilo era obra do Diabo, e precisava ser exterminado. Já pensou se os padres ricos começam a comprar bonecas de plástico, como aquela?
Não denunciei a ele o Padre Zózimo e, passados uns meses, informei-o de que desistia da investigação. Não havia achado nenhuma pista. E aconselhei-o a comprar outra boneca, mas não a exibir a ninguém.
É uma imprudência exibir as nossas mulheres.
Anníbal Augusto Gama
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