"Morreu no último
dia 19, aos 90 anos de idade, de causa ignorada, a paulista
conhecida como “a Velhinha de Taubaté”, que se tornou uma
celebridade nacional há alguns anos por ser a última pessoa no
Brasil que ainda acreditava no governo.
O fenômeno, que
veio a público durante o governo Figueiredo, o último do ciclo dos
generais, levou multidões a Taubaté e transformou a Velhinha numa
das maiores atrações turísticas do estado.
Além de estandes de
tiro ao alvo e de venda de estatuetas da Velhinha e de uma
roda-gigante, ergueram-se tendas para vender caldo de cana e pamonha
em volta da pequena casa de madeira onde a Velhinha morava sozinha
com seu gato, e não era raro a própria Velhinha sair de casa e
oferecer seus bolinhos de polvilho a curiosos que chegavam em ônibus
de excursão para serem fotografados com ela e pedirem seu autógrafo.
A Velhinha sempre
acompanhou a política e acreditou em todos os governos desde o de
Getúlio Vargas, inclusive em todos os colaboradores dos governos
militares, “até”, como costumavam dizer muitos na época, com
espanto, “no Delfim Netto!”
O presidente Sarney
telefonava freqüentemente para Taubaté para saber se a Velhinha,
pelo menos, ainda acreditava nele, e Collor foi visitá-la mais de
uma vez para pedir que ela não o deixasse só.
As circunstâncias
da morte da Velhinha de Taubaté ainda não estão esclarecidas. Sua
sobrinha Suzette, que tem uma agência de acompanhantes de
congressistas em Brasília embora a Velhinha acreditasse que ela
fazia trabalho social com religiosas, informou que a Velhinha já
tivera um pequeno acidente vascular ao saber da compra de votos para
a reeleição do Fernando Henrique Cardoso, em quem ela acreditava
muito, mas ficara satisfeita com as explicações e se recuperara.
Segundo Suzette,
ela estava acompanhando as CPIs, comentara a sinceridade e o
espírito público de todos os componentes das comissões, nenhum dos
quais estava fazendo política, e de todos os depoentes, e acreditava
que como todos estavam dizendo a verdade a crise acabaria logo, mas
ultimamente começara a dar sinais de desânimo e, para grande
surpresa da sobrinha, descrença.
A Velhinha
acreditara em Lula desde o começo e até rebatizara o seu gato, que
agora se chamava Zé. Acreditava principalmente no Palocci. Ela
morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma
notícia. Mas a polícia mandou os restos do chá que a Velhinha estava
tomando com bolinhos de polvilho para exame de laboratório. Pode ter
sido suicídio.
O ambiente no
parque de diversão em torno da casa da Velhinha de Taubaté é de
grande consternação.
Luiz Fernando
Veríssimo
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